A Infoinclusão social como política pública e transparência ética.
- Evandro Prestes Guerreiro

- 10 de out. de 2022
- 4 min de leitura
A gestão básica do problema sanitário que expos a Questão social da pobreza, em seu mais injusto impacto no âmbito da vulnerabilidade social da saúde, mostrou-se fragilizada em sua eficácia, mesmo diante da capilaridade do Sistema Único de Saúde que temos, o Brasil ocupou o terceiro lugar entre os países com mais óbitos por Covid19, ficando atrás de Índia e Estados Unidos. Desgoverno ou não, o resultado de lideranças que fazem escolhas movidas pela emoção do momento, são frustrantes e drásticas coletivamente, diante da postura de expectador da sociedade, em busca infindável pelo "salvador da Pátria", que ilude projetos e falseia a realidade concreta. "Vida louca, vida breve, já que eu não posso te levar, Quero que você me leve...Vida imensa. Ninguém vai nos perdoar, nosso crime não compensa", dizia o poeta Cazuza em seus mais angustiantes dilemas pessoais. Quando a pandemia atingiu seu pico, procurei me perdoar e preservar a saúde mental: parei de assistir telejornais.

O resultado mais visível de minha escolha foi manter o foco e, mesmo diante das circunstâncias "apocalíptica", consegui equilibrar as emoções e assumir o controle possível sobre os sentimentos cada vez mais arrebatadores. O medo estava tomando conta diante da ausência de informação que transporte credibilidade. A ignorância do momento mais crítico da pandemia, gerava espaço para notícias fraudulentas, corrompidas e alienantes. Quanto mais desinformação, maior era a tensão, instabilidade emocional e clima de pânico que se alastrava sem precedente na Era moderna. Mesmo com a instalação de um comitê internacional de crise, representado pela OMS - Organização Mundial de Saúde, cada nação dependia da sensibilidade gerencial do líder governamental e, quanto menos centrado foi o governante, mais dramático foi o resultado do processo.
A lição que ficou foi a aprendizagem transformacional, resultante da sintonia entre o olhar de quem observa a situação e o movimento natural da realidade vivida. Na tensão social, em instantes de incertezas, na ausência de dados visíveis e fenômenos indecifráveis, no comprometimento emocional, a resiliência pessoal e gerencial para refratar as informações, filtrar as evidências pertinentes e racionalizar as escolhas com os recursos disponíveis, torna-se a plataforma que sustenta o sistema institucional do contrato de sociedade. O contrato é a engenharia legal que possibilita o funcionamento da sociedade moderna como espaço geopolítico de ocupação territorial e nacionalidade.
Acreditava-se que a globalização econômica seria a solução para os problemas locais de cada nação, algo difundido a tempo e, uma das teses mais aceitas sobre o tema é que a globalização emergiu com as Grandes Navegações dos séculos XV e XVI, expandindo o comércio e criando o fenômeno do colonialismo europeu, mais especificamente liderado por Espanha e Portugal. Descobriu-se que a globalização além de sua tipologia, tinha interesses diversos e esteve diretamente associada a busca de riquezas e acumulação de capital. Na sua quarta fase global, se caracteriza por fluxos intensos de mercadorias, capitais e serviços internacionais, exigindo a negociação, aceitação e legitimação de acordos transnacionais, seja no âmbito dos mercados, seja na organicidade das relações diplomáticas entre as diferentes nações do mundo.

A transparência, difusão, educação e comunicação do contrato como unidade do coletivo internacional é o que possibilita a globalização ser a estratégia gerencial dos interesses comuns à humanidade planetária, algo que a ONU - Organização das Nações Unidas estabeleceu no consenso de criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 1948, enquanto norma que estabelece a proteção universal dos direitos humanos, a ser alcançada em escala universal, como infoinclusão social.
A infoinclusão social é o tratamento ético comprometido das evidências dos fatos. A forma como o processo produtivo e gerencial da informação é conduzido em qualquer contexto social, influenciando as decisões no sentido macro e micro das relações pessoais e corporativas. Durante os dois anos da pandemia, emagreci seis quilos. Mudei hábitos alimentares, comportamento de consumo e neguei com veemência a informação veiculada pelos meios de comunicação, como estratégia para manter a saúde mental. Perdi amigos próximos e, após três doses de vacina contra a Covid19, descobri que a vida é tão frágil, quanto complexa e, a cada dia se aprende contraditoriamente, a ser mais flexível diante da evidência dos fatos, mesmo que boa parte acredite, que a melhor estratégia é se proteger no grupo social de referência, reforçando o individualismo da utópica liberdade, fundamentada no negacionismo.
A pandemia tornou a realidade mais cinzenta e se o número de pessoas em extrema pobreza chega a 86 milhões, em situação de pobreza totaliza 201 milhões na América Latina e Caribe, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). "A gente quer comida, diversão e arte", ressalta Arnaldo Antunes (1990). A pobreza é visível em diferentes contextos sociais e, diante dos fatos explícitos da realidade, o projeto neoliberal ocupa seu espaço no cenário da governança pública do Estado mínimo.
A situação de vulnerabilidade de mais de 120 milhões de brasileiros que conseguem satisfazer parte de suas necessidades diárias com alimentação, colocou 33 milhões no mapa da fome. A pós-pandemia revelou um cenário de insegurança alimentar e um quadro pós-apocalipse de conservadorismo individualista, comprometendo a solidariedade e a coexistência compartilhada. A gestão pós-vacina, mesmo diante do alucinado negacionismo governamental do líder inominável pelos seus opositores, exige a adoção racional de medidas capazes de potencializar a credibilidade, ampliar as condições de estabilidade econômica e a adoção de recursos administrativos qualificados para legitimar estratégias de previsibilidade e inteligência gerencial ética.
O pragmatismo e utilitarismo na aplicação das leis é o que assegura a potencialização do contrato social. Entender que acolher a vulnerabilidade social é um ato constitucional de proteção, o que requer a adoção de política pública, como mecanismo de gestão social das desigualdades e, não de naturalização da pobreza. A lei é o starting point (ponto de partida) da coexistência em sociedade e não, o fim em si mesma. A lei na perspectiva moderna iguala a civilidade e potencializa a cidadania de quem pertence ao lugar, produz riqueza, não como resultado material em si, mas, como diversidade cultural, no qual o público e o privado se completam como mutação do fato social. O momento político global é de consolidação dos princípios de publicização, convivência, compartilhamento de esforços e solidariedade como grupo social. Emile Durkheim estudou a função das instituições, que são embasadas pelas regras, normas e artifícios padronizados socialmente, com o único propósito de preservar a organização do coletivo, enquanto contrato social. A transparência é a ética do contrato enquanto Infoinclusão social e, como tal, deve ser a política pública como condição que legitima o trato com todos os desdobramentos das relações humanas no ambiente em sociedade.








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