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Empatia social e identidade de grupo

O primeiro pilar da sociedade se estabelece, a religião, não no sentido da "religação" ou aliança com a ética ecológica, holoperceptiva, mas, no sentido de "criar" o princípio de "sociedade" hegemônica, imperativa, regrada pela educação doutrinária. A religião, no ponto de vista da ética, traduz a aliança com Deus ou a ideia de divindade, entretanto, a cultura dos grupos formam a identidade de lugar, comunidade, sociedade, cidade e, tudo isso, depende dos interesses hegemônicos e da relação de poder estabelecido. Esta relação social forja a identidade de grupo, que qualifica o sentido da vida social, amizades, companheirismo, família, empatia social com a vizinhança, cidadania, pátria, nação.

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A modernidade líquida, complexa, disruptiva, imprevisível caracterizada por Zygmunt Bauman [1] apresenta o dilema humano de como fazer a travessia de mudança entre a visão binária, dual, linear e extremista, para a nova perspectiva multidimensional, transcendental, realidade holoperceptiva, inclusiva, acolhedora, resiliente e continuamente refratária à aprendizagem disruptiva. Obviamente que não será o modelo pedagógico, criado para atender aos interesses de classe, que conseguirá solucionar o problema de inclusão social da contemporaneidade, mas, o novo projeto político educacional de sociedade, pautado pelo paradigma do desenvolvimento humano sustentável.


A sustentabilidade é orientada pela capacidade dos grupos respeitarem o contrato ético de convivência pacifica, estabelecendo critérios para a vida presente em sociedade, sem comprometer o futuro das novas gerações quanto a sua capacidade de suprir suas necessidades. A sensibilização de que somos originários da mesma espécie é a base para o estabelecimento da identidade humano-solidário de empatia social, capaz de criar laços de amizade, cumplicidade ética, compartilhamento, colaboração e vínculo social. A empatia é o ato de imaginar-se emocionalmente comprometido(a) com a crença que lhe é conveniente e, adequadamente resiliente para o momento, a partir da consciência de seu próprio estado de espírito, para ser solidário com o outro. A solidariedade transformou-se no segundo pilar da sociedade.


A coexistência dos diferentes é o grande desafio da sociedade contemporânea, dominada por organizações, seja no âmbito formal, normativo-social, seja no sentido da tipologia institucional. Se antes a sociedade era formada por pequenos sistemas sociais desorganizados, atualmente, são as organizações em diferentes níveis, que qualificam o contexto social e a complexidade da sociedade moderna. Compreendendo assim, pode-se afirmar que existem as organizações humanas informais, como um grupo de pessoas que se reúne com o propósito de cumprir um objetivo convergente de interesses, deixando de existir após resolver o objeto que motivou a grupalidade e, as organizações formais, abrangidas por um conjunto de normas, regras e procedimentos, que orientam e regulam as ações das pessoas no ambiente social, caracterizando a instituição.


A empatia social significa aderir aos papeis estabelecidos pelo grupo hegemônico, não como verdade monotemática ou doutrinária, mas, como instituição criada, regulada, gerenciada e promovida democraticamente no seu tempo sócio-histórico, político-cultural, tecno-econômico e ecológico. O que une cada ser vivo no planeta que habitamos é a vida, como energia pulsional, latente, intrapessoal que conecta um ao outro na relação interpessoal.


O ser humano contemporâneo está inserido em organizações que coordenam o seu trabalho, estudo, interesses, reivindicações e as múltiplas demandas da modernidade. O prêmio Nobel de economia de 1993, Douglas North, inicia sua reflexão ganhadora sobre instituições, ressaltando que são "determinações criadas pelo homem que estruturam as interações políticas, econômicas e sociais" [2], estabeleceu ao longo da história as condições de limites no exercício dos papeis sociais, principalmente, perspectiva econômica, ressaltou o Prêmio Nobel. Por outro, enquanto criação humana, as instituições são normalizadoras da conduta comportamental das pessoas, especialmente, no contexto da divisão social do trabalho, assegurando a coexistência pacífica em seu tempo e lugar.


O ser humano moderno é o que classificamos como espectro expressivo da sociedade contemporânea, representado pelas gerações: Alpha, que nasceu posterior a 2010, geração Z, nascidos na década de 1990, geração Y, nascidos na década de 1980, a geração X que se representa pelas pessoas que nasceram na década de 1960 e, a geração Baby Boomers, nascidos na década de 1940, como resultado atribuído ao fim da segunda guerra mundial. O espectro social deste momento inigualável do desenvolvimento humano produziu o debate sobre diversidade, a ruptura institucional, a polarização, o racismo, extremismo político, pluralismo, antixenofobismo, exclusão social, concentração de riqueza e, a maximização da pobreza extrema.


A Questão social que ultrapassou os limites da fábrica na segunda revolução industrial, ocupou o lugar das ruas no capitalismo informacional da sociedade em rede, explicitando a invisibilidade social de desempoderamento, anticidadania e distopia social, que coloca em risco a democracia e o estado democrático de direitos.


A Questão social, como analisa Guerreiro (3) "se propaga socio-historicamente em toda sua complexidade no cotidiano dos indivíduos sociais, no grupo familiar, nas organizações, nas políticas públicas e sociais presentes no modo de produção capitalista". A Questão social no neocapitalismo informacional está enraizada na institucionalização da pobreza, que requer muita empatia social, como estratégia para desenvolver uma nova identidade de grupo, uma nova instituição, que Baremblit (4), qualifica como "árvores de decisões lógicas que regulam as atividades humanas, indicando o que é proibido, o que é permitido e o que é indiferente. Segundo seu grau de objetivação, podem estar expressas em leis, princípios ou fundamentos, em normas ou pautas", assim, o ambiente institucional do grupo de trabalho, familiar, referência e qualquer outro tipo de vínculo interpessoal, transforma-se cada vez mais em espaço legítimo para desenvolver a nova identidade de grupo, adotando a empatia social, como terceiro pilar da sociedade moderna e estratégia para fazer frente a nova exploração da força de trabalho intelectual.


Referência:

1. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução, Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

2. NORTH, D.C. Custos de transação, instituições e desempenho econômico. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1994.

3. GUERREIRO, Evandro Prestes. A Questão social e a cidadania no neocapitalismo - competências profissionais no trabalho social. Curitiba: Brazl Publishing, 2020 (p. 31).

4. BAREMBLITT, G. F. Compêndio de Análise Institucional e outras correntes: teoria e prática. 3. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos, 1996 (p. 177).


 
 
 

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