top of page

Movimento social, resistência política e direitos humanos.

Atualizado: 21 de fev. de 2024

A sociedade é resultado histórico do processo de desenvolvimento humano, em diferentes manifestações no âmbito da formação familiar, propriedade privada, divisão social do trabalho, formação da comunidade, invenção do Estado e muitos estágios de consciência coletiva, ora potencializando os avanços, ora resistindo às ameaças aos direitos humanos para formação da sociedade democrática, inclusiva e sustentável. Enquanto houver pobreza e exclusão social, haverá forte motivo para que a resistência política, seja a palavra de ordem nos diferentes segmentos humanos do desenvolvimento, qualificando o movimento social como a base de sustentação dos direitos da cidadania.


ree

Os movimentos sociais são entendidos por Abramides e Duriguetto (2014) como formas de organização coletiva que se mobilizam para a defesa de direitos e interesses comuns, se expressando pela dimensão teórica, ética e metodológica. São frutos da desigualdade e da injustiça social e têm papel fundamental na luta por mudanças sociais. Análise esta, que fez com propriedade Castells (2013), sobre os movimentos sociais que eclodiram em 2011, denominados "Primavera Árabe", os "Indignados na Espanha" e os movimentos "Occupy" nos Estados Unidos.


O movimento social é a dinâmica da natureza humana buscando qualidade de vida, inclusão social, participação política nas decisões que envolvem os interesses dos diferentes grupos e organizações, peculiar ao sujeito de direitos e a formação de identidade coletiva da sociedade, com ideologias e interesses convergentes e divergentes. Castells (2013) , ressalta que são marcados por quatro características:


  1. Ativismo horizontal, fundamentado pela participação direta dos indivíduos;

  2. Ocupação do espaço público, para manifestar indignação e reivindicar direitos;

  3. Uso das novas tecnologias, como estratégia de mobilização e organização;

  4. Caráter global, se conectando e se inspirando em rede global de ativismo.


Estas características abordadas pelo autor, traduzem os movimentos sociais como representações da indignação dos setores populares pelo menos em três frentes: desigualdade, exclusão e a corrupção. A Questão social é o combustível necessário que potencializa o encontro da diversidade com os direitos humanos e, sustentabilidade com a cidadania, enquanto recurso possível para combater o "êxodo da pobreza", que transforma exclusão e vulnerabilidade, em resistência política e movimento social.


O capitalismo que privilegia o lucro financeiro, a especulação oportunista, a corrupção de valores e ética, a chamada "uberização" do emprego e a fragilização do trabalho, torna a idade avançada e improdutiva, um estorvo que atormenta a seguridade social de aposentados, pensionistas e incapacitados permanentes, qualificados como "inválidos". Somos seres humanos que transitamos entre o drama e o bom humor, o sofrimento e o bem-estar, momentos de tristeza e de festejadas alegrias quando conquistamos sonhos, mas também, somos violentos, sexistas, racistas, machistas, pedófilos, xenófobos, genocidas e negacionistas.


ree

A história nos mostrou que o capitalismo é bom para o investidor e herdeiro, entretanto, se levarmos em consideração que dois terços da riqueza do mundo estão concentrados em 1% da população mundial (Oxfam), então, as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social pelo mundo a fora, incluindo o trabalhador, encontram no movimento social o ativismo circunstancial para se fazer ouvir. "O trabalhador que na sociedade de massa nos primórdios do capitalismo formou uma classe social, no neocapitalismo, se transformou em mão de obra meramente ocupacional". (GUERREIRO, 2020, p. 27).


O movimento social é histórico, pois, traduz a identidade do sujeito de sua época, situacional, uma vez que se contextualiza na relação sujeito-realidade local, político, quando parte da sociedade se encontra no dilema entre a ditadura e a democracia, mas também é de cidadania, por ser a legítima expressão do sentimento indignado e excluído, chegando no limite da opressão que catapulta a resistência e ativa os direitos humanos.


No Brasil, os movimentos sociais estão utilizando uma variedade de estratégias, incluindo a mobilização, a ação direta e a negociação com o Estado, como ressalta Gohn (2003), entretanto, precisa ter propósito que justifique a causa social que defende e identidade de classe, para integrar o papel do sujeito coletivo na manifestação do momento, que se transforma no motivador estratégico de educação social, cidadania e ativismo permanente.


Referências:

  • ABRAMIDES, M. B. C.; DURIGUETTO, M. L. Movimentos sociais e serviço social: uma relação necessária. São Paulo: Cortez, 2014.

  • BBC News Brasil. O que foi e como terminou a Primavera Árabe? Rogério Simões. Londres, 20/ 02/ 2021. Acesso em 13/01/2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55379502

  • BDF. Como a terceirização e a uberização precarizam as condições de vida dos trabalhadores. Eugênio Bortolon, Brasil de Fato, Porto Alegre (RS), 24/06/2023. Acesso em 13/01/2023. Disponível em: https://abrir.link/RcUuu

  • BUTANTAN. O que é negacionismo e porque ele atrasa a evolução do conhecimento; ciência avança com dúvida e questionamento, não com negação. Publicado 19/04/202. Acesso em 13/01/2023. Disponível em: https://abrir.link/0LTqk

  • CASTELLS, M. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

  • EXAME. "Indignados" voltam às ruas um ano depois do 15 de maio. Gabriel Rubio, 11/ 05/ 2012. Acesso em 13/01/2023. Disponível em: https://exame.com/mundo/indignados-voltam-as-ruas-um-ano-depois-do-15-de-maio/

  • FOLHA DE SÃO PAULO. Dez anos depois, vírus do Occupy Wall Street segue em mutação explosiva. Rodrigo Nunes, 17/ 09/ 2021. Acesso em 13/01/2023. Disponível em: https://abrir.link/zWgqS

  • G1. 'Êxodo da pobreza': milhares de imigrantes se juntam à nova marcha para entrar nos EUA. BBC, 27/12/2023. Acesso em 13/01/2023. Disponível em: https://abrir.link/ZIYdq

  • GOHN, Maria da Glória (Org.) Movimentos sociais no início do século XXI: antigos e novos atores sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

  • GUERREIRO, Evandro Prestes. A Questão social e cidadania no neocapitalismo - competências profissionais no trabalho social. Curitiba: Brazil Publishing, 2020.

  • CARTA CAPITAL. Dois terços da riqueza do mundo são acumulados por 1% da população mundial, diz Oxfam. André Lucena,16/01/2023. Acesso em 13/01/2023. Disponível em: https://abrir.link/na963



 
 
 

Comentários


bottom of page