Pesquisa social: competência pulsional do trabalho social
- Evandro Prestes Guerreiro

- 12 de jul. de 2022
- 3 min de leitura
O trabalhador social é e, continuará a ser um "reprodutor" do pensamento e práticas empregadas historicamente nas obras assistenciais, dada a influência da doutrina social cristã, ainda fortemente enraizada, nos corações apaixonados, por fazer o bem e, nos modelos mentais do conservadorismo.
O bem precisava saber e aprender como dizer não para a realidade dos fatos sociais, estabelecendo os limites para as intenções ilimitadas do mal. Isso mesmo, de "boas intenções o inferno está cheio" e o trabalho social não é inferno, mas, uma representação cultuada pelo imaginário popular e da ideia cristã de paraíso. A paixão é maior que o amor, o que parece ridículo, como bem aponta o psicanalista francês Jacques Lacan, que fez uma releitura da obra e paradigmas analisados por Sigmund Freud. O ridículo é como o ser apaixonado se deixa levar pela emoção e "às cegas", se entrega aos braços do ser "amado". Emocionalmente escrevendo estas linhas, posso dizer que nas vezes surpreendido por esta energia, denominada "orgone" por Reich, no qual vivi a paixão física entre dois seres apaixonados, sem dúvidas, foi intensamente prazeirosa.
A pulsão de vida envolve física e emocionalmente o ser, filtrando a realidade a ponto de canalizar somente o que potencializa o prazer. "Segundo Reich, o 'orgone' estava por todos os lados e era a mesma energia espiritual que outros chamavam de Deus. Reich acreditava que, quando essa energia estancava ou diminuía, causava decadência, enfermidade e morte" (BBC, 2019). Assim, a emoção, que é um estado de reação comportamental inconsciente, se expressa pela consciência do sentimento do momento, diante da realidade dos fatos observados e das emoções estimuladas pelo fato em si. Em resumo, podemos educar nossos sentimentos, para poder expressá-los emocionalmente de forma mais equilibrada.

O debate sobre as competências profissionais na atualidade, são envoltos pelo dilema sentimento-emoção-afeto, apresentando desafios em diferentes campos da aprendizagem. No contexto do trabalho social, identificamos em nosso estudo sobre a Questão social (2020), três grupos essenciais de competências socioprofissionais do assistente social, enquanto domínio do conhecimento e capacidade para compreender e saber como analisar e intervir na realidade social: a competência técnica-científica, qualificada pela teoria e metodologia do serviço social, competência crítica-praxiológica, que traduz o cenário da intervenção, a partir da aplicação de ferramentas técnicas de intervenção e, a competência socioemocional, que integra a intervisão de aprendizagem e a ação sócio-pedagógica.
No contexto da pesquisa social, o pensamento precisa ser argumentado, a partir da análise técnico-científico de contextualização do objeto de conhecimento (pesquisa social) e, ampliação do conhecimento, orientado pelas fontes de pesquisa, que embasam o raciocínio. Dessa forma, a ciência social é complexa como qualquer outra área do conhecimento e, como tal, as impressões que o pesquisador possui sobre a realidade da intervenção, são representações mentais do fato social. Como as representações mentais, são criadas pela mente do observador, a partir dos filtros neurológicos da razão, emoção e os filtros sociais, que orientam individualmente as escolhas e decisões, então, o pesquisador social precisará educar sua observação sobre os fatos, buscando manter a distância segura, a ponto de não misturar suas representações do fato social em si, com seus valores e percepções sobre seu mundo.
A pesquisa social é uma das competências formativas no serviço social brasileiro, estabelecida pelas Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social, legitimadas pela Resolução nº 15/ 2002, tendo em mente "realizar pesquisas que subsidiem formulação de políticas e ações profissionais". Portanto, trata-se de uma contradição a formação profissional deixar de priorizar a pesquisa social, como prática para aprender a saber como intervir na realidade social, partindo da elaboração de pre-diagnóstico (capacidade para saber como identificar fontes de estudos sobre o problema social), diagnóstico técnico-social (capacidade para estabelecer o parecer social que orientará a intervenção, que neste caso, denomino intervisão de aprendizagem) e, o prognostico estratégico-operativo (capacidade para planejar e definir aos recursos instrumentais de encaminhamento e atendimento a demanda de assistência por parte do cidadão privado de direitos).
A Pesquisa social torna-se neste aspecto, a competência pulsional do assistente social, para identificar a causa raiz do problema, demandado pelo cidadão desprovido de seus direitos, tornando-se a base de sustentação da prática profissional no âmbito do trabalho social. Como pesquisa, precisa de instrumentos técnicos para interpretar a realidade e não de emoções profissionais impulsivas e, em alguns casos repulsivas. Pela pesquisa, o profissional preserva racionalmente, a qualidade do parecer social, contornando juízos de valores e o risco inerente da ciência: ser "traída" pela estreita relação entre sujeito e objeto.








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