Ruptura social: a geração alpha no fundo da caixa de Pandora.
- Evandro Prestes Guerreiro

- 25 de mar. de 2024
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A geração X (nascidos na década de 1960) ficou tão focada em consolidar a ruptura social com a cultura da ditadura e opressão autoritária, que comprometeu a passagem do bastão na corrida geracional, deixando a geração Y (nascidos na década de 1980) sem saber como lidar com a parte falida do sistema, herança corrompida pela traumática geração baby boomer (nascidos na década de 1940), filhos de pais que conseguiram sobreviver com as duas grandes guerras mundiais e passaram a acreditar em futuro de "paz e amor". A geração X demorou a fechar a "caixa de Pandora", que a geração baby boomer, recebeu aberta de seus ancestrais, misturando realidade e fantasia.
A geração X, juntamente com a geração baby boomer fizeram um pacto velado e o que antes era selado com um aperto de mão, precisava ser posto em contrato, como estratégia para gerenciar as desgraças que o ser humano enfrentaria com a abertura da "caixa de Pandora": discórdia, guerra, inveja, dor e todas as doenças do corpo, mente e espírito. A geração Y, ao se perceber no meio da trama dilemática, fechou tarde a caixa e simultaneamente, aprisionou o dom oculto colocado no fundo pelos deuses: a esperança.

A esperança enquanto sentimento que move a crença otimista de que a situação enfrentada terá um desenlace positivo e favorável, foi depositada na geração Z (nascidos nos anos 2000), que mergulhada no paradigma da mudança e volatilidade do mundo conectado pela rede computacional, ignorou qualquer tipo de responsabilidade formal e acreditou que o tempo curaria o sofrimento e "mal-estar da civilização", o que não ocorreu, mas, pelo contrário, “não há regra de ouro que se aplique a todos: todo homem tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser salvo” (FREUD, 1930, p. 91).
O individualismo foi potencializado e a geração Z fez a ruptura social, criando em abismo com as gerações Y e X, que repetiram o modelo cultural linear, mesmo contra a vontade e, diferente de criarem as novas possibilidades futuras que preencheriam o vazio existencial, se debruçaram nos já agravados problemas de sustentabilidade, direitos humanos, diversidade e inclusão social. O resultado mais evidente das escolhas que fizemos é que trocamos a liberdade pela segurança e para manter esta última, nos aprisionamos em nós e perdemos a crença na falácia da sociedade democrática de direitos, onde os mais ricos compram a justiça que lhes convém, como o caso do jogador Daniel Alves. Como analisa Bauman (1998, passim), “as pessoas já não acreditam no sistema democrático porque ele não cumpre suas promessas”.
A geração alpha (nascidos pós 2010) submergiu no mundo digital sem medo de "apertar o botão". A geração Z, por sua vez, duvidosa e instável emocionalmente diante da realidade caótica e da densidade desconstruída ainda na "barriga da mãe", completou a ruptura social, mas, sem projeto de futuro, permaneceu na casa dos pais e os que se aventuraram a sair, retornaram pedindo desculpas. O mundo novo e o novo mundo se consolida rapidamente e a mente esgotada das gerações baby boomer, X e Y não consegue acompanhar a complexidade estressante da modernidade que a geração Z, escolheu contemplar. A geração alpha é o próprio dom ocultado pelos deuses no fundo da caixa de Pandora, esquecido lá por razão óbvia: preencher o vazio da ruptura social com a esperança de humanizar o futuro sustentável que todos precisamos.
Referência:
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996 [ “O mal-estar na civilização”, vol. XXI ,1930].
NATHAN, Andrea. O que é a caixa de Pandora. Entenda a origem do mito – e descubra o que tinha lá dentro. Acesso em 25/03/2024. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/o-que-e-a-caixa-de-pandora








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