"Ecolonização" e a ECO-30.
- Evandro Prestes Guerreiro
- 24 de jan.
- 4 min de leitura
"Mapear 1.142.000 Km2 da região amazônica, na região de vazio cartográfico", assim começa a explicação da finalidade do Subprojeto Cartografia Terrestre, executado pela Diretoria de Serviço Geográfico (DSG) e apoiado pela Força Aérea Brasileira (FAB), como parte do Projeto Cartografia da Amazônia, coordenado pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM). Como pesquisador e projetista sênior, diria que a tarefa, independe de sua complexidade é necessária e urgente, no mundo dividido entre àqueles que defendem o desenolvimento sustentável e àqueles propagandistas da exploração de recursos naturais para a "felicidade geral da nação". A "dose sarcástica" desse remédio que curaria a doença maligna do capitalismo, começou na década de 1980, com a pauta de esquerda brasileira defendendo a "desinternacionalização da Amazônia", desde o movimento estudantil, até os partidos políticos substantivos, como o "partidão" da época.

A Amazônia, assim como qualquer outro território geográfico desse planeta está sujeita a determinação legal de soberania e geopolítica global, claro com o devido desconto de "pontos fora da curva", como o caso da guerra ucraniana ou a faixa de Gaza, algo que o presidente norte-americano sabe muito bem, porém, como o "negacionismo" é uma estratégia política para "perda de foco" do core business, corremos o risco de perceber quando o estrago já estiver ocorrido, o que também, não seria novidade na dinâmica cultural que vai da diversidade mais flexível, passando pela hibrida, até chegar na inflexível, diria fundamentalista ou ainda, o que o estudo do linguísta britânico, Richard D. Lewis (1996), em "When Cultures Collide", que apresenta uma análise a respeito das diferenças culturais e seus impactos na comunicação e nos negócios internacionais, propondo um modelo de classificação cultural que divide as pessoas de cada nação, em três categorias principais: lineares-ativos, reativos e expressivos ou multi-ativos.
Os lineares-ativos, segundo Lewis, são pessoas de culturas que valorizam a organização, a pontualidade , o respeito à individualidade de cada um, regulamentos e a hierarquia cronológica de tarefas, já os reativos, se caracterizam pela cultura ser de maior introversão e de respeito pelo próximo e, os multi-ativos, como é o caso do Brasil, as culturas são de pessoas extrovertidas, falantes e que prezam mais pelos resultados, que a organização, bem como, os passos para alcançá-los. Quer dizer, segundo o estruturismo linguistico de Lewis (1996), "falamos pelos cotovelos" e agimos, quando o "leite derramou".

A aprendizagem leva tempo e de 1980 para o ano de 2025 é um tempo considerável, que o governador paraense da família Barbalho, diga-se de passagem, "filho de peixe, peixinho é", precisa estabelecer parâmetros de soberania na governança dessa neointernacionalização da Amazônia, com a ECO-30. “O Brasil não mais dará conta de entregar os seus compromissos apenas preservando, nós temos que restabelecer o estoque florestal e o Estado do Pará, neste momento, está fazendo a primeira concessão de restauro do Brasil. São 10 mil hectares de uma área que historicamente sofreu a maior pressão da pecuária em toda a Amazônia, conhecida como APA Triunfo do Xingu, e agora em março estaremos na bolsa de valores de São Paulo para fazer a concessão por 40 anos”, comunicou o chefe do executivo no Fórum Econômico Mundial. Nosso problema é cultural, assim como ocorria nos anos de 1980, acreditamos em falas, "palavras que são levadas pelo vento", como ouvia nos vilarejos na região do D'ouro, em Portugal, sobre alguém bater à porta: "Entre, quem é?", a confiança e a boa fé, antes da maliciosidade malandra, está no passado, o que Durkheim descreve como a forma de "solidariedade orgânica" que pertence a sociedades complexas.
A acidez das palavras fica melhor escrita, que o suco gástrico fervilhando no estômago. Os principais desafios apresentados na ECO-30, como aponta o Governo brasileiro, "incluem alinhar os compromissos de países desenvolvidos e em desenvolvimento em relação ao financiamento climático, garantir que as metas de redução de emissões sejam compatíveis com a ciência climática e lidar com os impactos socioeconômicos das mudanças climáticas em populações vulneráveis" e, completaria criando estratégias de compartilhamento ecoresponsáveis entre os principais atores, interessados na preservação sustentável do planeta, que neste caso, não se pode contar com a visão dos adeptos do "trumpistas", que repete o que fez no primeiro governo quando se trata de compromissos: "Se você fizer, eu faço".

A "ecolonização" é a visão de ecologia integrada com a cultura colonizadora e expropriadora, que conhecemos pela história, com reflexos perversos no "novo mundo" e os responsáveis pelos impactos climáticos que colocam em risco as futuras gerações têm nomes: Ingreses, franceses, espanhois, portugueses e holandeses e aqui a "ordem dos tratores não interfere na cosntrução do viaduto". A neocolonização mudou de ator, mas, o princípio ecológico é equivalente, com um certo requinte bélico de poder terrorista legalizado, com o ranking liderado pelos Estados Unidos, Rússia, China, Índia, Coréia do Sul e o Reino Unido [mesmo com decisões geopolíticas duvidosas no meio do caminho].
Qual o significado de tudo isso para a ECO-30 e o preenchimento do vazio cartográfico da Amazônia brasileira? Fique certo que a decisão de Trump de perdoar ou atenuar as sentenças de quase 1.600 pessoas envolvidas na invasão do Capitólio em 2021 e a retirada americana do Acordo de Paris, são decisões negacionistas do Estado Democrático de Direitos, mas também e principalmente, potencializam nossa ecolonização com a aculturação malandra, resultante da troca de elementos culturais e a modificação das culturas envolvidas, prevalecendo a cultura mais forte.
Comments